15/12/2008

SOBRE O GÊNERO: ARTIGO DE OPINIÃO

Teoria do gênero
O artigo de opinião é um texto jornalístico, em prosa, que apresenta o ponto de vista do autor ou autores a respeito de determinado assunto considerado de interesse no momento. Quem escreve um artigo é chamado de articulista.
É um texto de caráter dissertativo-argumentativo. São características desse gênero:

· Expressam posições de seus autores/articulistas, que são responsáveis pelas idéias apresentadas. São assinados.

· Pode estruturar-se de diversas formas. O mais comum é compor-se de três partes:
* Primeira parte: apresenta-se o tema, de forma sucinta, fazendo um histórico se for o caso. Pode-se também, apresentar nessa parte, uma tomada de posição diante do tema, ou seja, a formulação de uma tese.
* Segunda parte: apresentam-se os argumentos e contra-argumentos necessários para justificar a posição defendida.
* Terceira parte ou encerramento: reafirma-se ou apresenta-se de modo condensado o ponto-de-vista defendido no artigo.

· O articulista adota estratégias discursivas para convencer o leitor: acusações claras aos oponentes, as ironias, as insinuações, as digressões, as apelações à sensibilidade, a retenção de recursos descritivos – detalhados e precisos, ou em relatos em que as diferentes etapas de pesquisa estão bem especificadas com uma minuciosa enumeração das fontes de informações.

· Progressão temática: é comum utilizar-se do esquema de “temas derivados”, em que o assunto é subdividido em tópicos, apresentando-se, em cada argumento “um tópico com seus respectivos comentários”.

· Predominam as orações enunciativas ou declarativas que afirmam ou negam algo. Aparecem também:
*Orações dubitativas: expressam dúvidas – com a função de relativizar determinados aspectos do assunto;
*Orações exortativas: expressam ordem/ pedido/ conselho – com a função de convencer o leitor a aceitar os argumentos apresentados;
*Orações exclamativas ou interrogativas – podem aparecer como recursos de persuasão, para enfatizar determinadas idéias ( Ex.: “Pode-se dizer que uma atitude como essa seja justificável?” ou “Trata-se de uma atitude injustificável!”).

· Busca-se uma linguagem objetiva, de preferência com frases curtas, entretanto em função da argumentação aparecem com freqüência frases complexas, com a presença de elementos articuladores como conjunções e preposições, chamados de operadores argumentativos.

· Embora possa ser escrito em 3ª pessoa, geralmente apresenta-se em 1ª pessoa do singular ou do plural que revelam subjetividade, o caráter de pessoalidade próprio desse gênero.

· A pontuação varia em função do estilo mais expressivo ou menos expressivo. São mais comuns os sinais predominantes em textos formais: ponto, vírgula, dois pontos, ponto e vírgula.

· Podem ser feitas citações de falas de outros autores ou personalidades (polifonia = outras vozes), as quais vêm, geralmente entre aspas.

Leia exemplos desse gênero logo abaixo
NOSSA ANTENA
Ruth de Aquino
Revista Época - 27/12/2007 - 22:08 Edição nº 502

Punir é uma forma de educar
O que fazer para evitar tantas mortes no trânsito brasileiro?

Tem gente que passa o natal engordando, relaxando e trocando presentes. Neste Natal, 196 brasileiros passaram o feriado morrendo nas estradas federais, em destroços de carros, caminhões, ônibus e carretas. Os feridos são 1.870. Em vez de degustar ceias e presentes, dezenas de famílias conheceram o luto. O total de mortos pode dobrar, porque a estatística não registra quem morreu nos hospitais. Mais um recorde macabro, e ainda não passamos pelo Réveillon ou Carnaval.
O que fazer? Punir. Aplicar a lei. Aumentar o valor das multas. Não mudar o Código de Trânsito em favor dos infratores. Prender os motoristas irresponsáveis. Suspender a carteira. Não chamar de acidente já ajudaria, diz Rodolfo Rizzotto, coordenador do SOS Estradas: “Acidente é cair um meteoro na cabeça do motorista. Desastres são todos previsíveis”. Especialistas já se cansaram de elaborar listas de causas. O professor Paulo Fleury, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), diz o que nós já sabemos: “As mortes no trânsito não são uma epidemia cuja causa não se sabe. Ao contrário: se sabe a causa, o lugar, o motivo. É descaso das autoridades”. A legislação brasileira não obriga ninguém a soprar no bafômetro. Permite uma série de recursos a quem mata no trânsito. Não há provavelmente ninguém preso ou com habilitação suspensa por ter matado uma pessoa ou uma família inteira na rua ou na estrada. O que são “cestas básicas” como punição para assassinos no trânsito?O Brasil conseguiu a proeza de afrouxar seu Código. Antes, pela lei, o motorista teria a carteira suspensa se fosse flagrado dirigindo 20% acima do limite de velocidade. No ano passado, esse índice subiu para 50%. Uma nova resolução do Contran determina que os radares sejam sinalizados e anunciados nas estradas. Só no Brasil mesmo. O que se faz entre os radares? Acelera-se. Nem o mau estado das rodovias pode levar a culpa: 80,7% dos acidentes acontecem em asfalto em boas condições; 71,4% em retas. Imprudência, álcool e impunidade são os maiores vilões. Isso soa terrivelmente redundante.Motoristas não têm a menor educação. Talvez fossem mais polidos se, na escola, ao ser alfabetizados, aprendessem noções de cidadania. “Primeiro é preciso multar todos os pais que param em fila dupla na frente das escolas”, diz Rizzotto. O mau exemplo, dos pais, é a pior aula de direção irresponsável para a criança. Na Inglaterra e na Alemanha, carros param para pedestres, mesmo fora do sinal. No Brasil, motoristas aceleram no sinal amarelo, e alguns “brincam” de assustar o pedestre.Não existe uma meta nem se aprende com o que aconteceu. A perícia vai para a gaveta. Há pesquisas associando acidentes ao cansaço. Em países civilizados, já soa um alarme em veículos a cada duas horas de direção. Uso de celular, rádio alto, excesso de horas, viagens depois de trabalhar o dia inteiro – tudo isso causa acidentes. Celular agora dá até dois anos de cadeia... na Inglaterra.
No Natal, um amigo de meu filho de 20 anos contou que sua maneira de dirigir mudou na Austrália. “Se bebo, não dirijo. Se dirijo, não bebo. Aprendi isso lá. Se me pegassem dirigindo alcoolizado, mesmo sem provocar acidente algum, eu ia para a corte, perdia a carteira e, se reincidisse, era deportado.” Por que não há o mínimo rigor no Brasil?

Artigo de opinião "A arca de Noé", de Carlos Heitor Cony

Arca de Noé
A atual histeria contra o PT, embora justificada pelos recentes episódios de corrupção e pela estagnação do governo presidido pelo partido, não deixa de ser exagerada e, de certo modo, imerecida. Afinal, o PT marcou-se no passado por espalhafatosa histeria moralizante, cultivando a imagem de vestal, de corpo estranho aos mil acidentes da carne política. Julgava-se espírito puro, ideal imaculado. Um ou outro caso duvidoso que surgia na vida partidária, envolvendo a antiga, tradicional e irrecuperável natureza humana, era prontamente abafado pela necessidade de ter um justo na face da Terra que merecesse ser salvo na arca de Noé. Por conta própria, os petistas julgavam e obrigavam os outros a julgar que somente o partido da estrela vermelha merecia sobreviver ao dilúvio. As revelações de agora demonstram que o PT era e continua sendo um partido como os outros, pregando uma coisa e fazendo outra. E, em matéria de compostura pessoal e cívica, com elementos bons e maus, do mesmo modo que todos os partidos. Contudo a arrogância petista está dando margem a uma generalização injusta e desproporcional. Tanto José Dirceu como o ministro Palocci estão sendo acusados à exaustão pelo fato de terem ou manterem assessores e amigos que se aproveitavam da parcela de poder adquirida para atos de improbidade explícita. Compreende-se a tática política dos adversários do PT em derrubar os mitos criados em torno de Lula e de seus adeptos. Mas não se pode levar a sério as acusações que pretendem atingir pessoalmente os dois ministros, que formam o núcleo de um governo desorientado. Devemos criticar a falta de preparo técnico e político da turma principal que está no poder. Mas a acusação genérica de pilantragem é, além de absurda, estupidamente burra.
Carlos Heitor Cony
Fonte: Folha de São Paulo, 21/03/2004, caderno Opinião, p. A2.

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