30/07/2009

Poeta cuiabano Manoel de Barros é citado em simulado do novo Enem



'O apanhador de desperdícios', de Manoel de Barros, foi utilizado no simulado da prova de Linguagens.
Marcy Monteiro Neto, da redação do site TVCA


O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão do Ministério da Educação que aplica o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), divulgou um simulado da prova que será realizada nos dias 3 e 4 de outubro. O novo Enem será a porta de entrada para os estudantes que pretendem estudar na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e outras instituições federais de ensino em todo o país.

No simulado divulgado pelo Inep, uma das questões do caderno de Linguagens traz uma poesia de Manoel de Barros, mato-grossense de 92 anos e um dos maiores poetas brasileiros.

Manoel de Barros nasceu em Cuiabá em dezembro de 1916 e publicou o primeiro livro em 1937: "Poemas concebidos sem pecado". A poesia dele tem como temática o Pantanal, contando detalhes de seu cotidiano, da natureza e da vida no campo. O cuiabano Manoel de Barros recebeu diversos prêmios literários, entre eles dois Prêmios Jabuti de Literatura, Prêmio da Academia Brasileira de Letras e um Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte de melhor poesia.
Confira abaixo a poesia citada no simulado e clique aqui para conferir o simulado na área de Linguagens.
O apanhador de desperdícios
Uso a palavra para compor meus silêncios.

Não gosto das palavras

fatigadas de informar.

Dou mais respeito

às que vivem de barriga no chão

tipo água pedra sapo.

Entendo bem o sotaque das águas

Dou respeito às coisas desimportantes

e aos seres desimportantes.

Prezo insetos mais que aviões.

Prezo a velocidadedas tartarugas mais que a dos mísseis.

Tenho em mim um atraso de nascença.

Eu fui aparelhado

para gostar de passarinhos.

Tenho abundância de ser feliz por isso.

Meu quintal é maior do que o mundo.

Sou um apanhador de desperdícios:

Amo os restoscomo as boas moscas.

Queria que a minha voz tivesse um formato

de canto.

Porque eu não sou da informática:

eu sou da invencionática.

Só uso a palavra para compor meus silêncios.


BARROS, Manoel de. O apanhador de desperdícios. In. PINTO, Manuel da Costa.Antologia comentada da poesia brasileira do século 21. São Paulo: Publifolha, 2006. p. 73-74.
fonte:http://rmtonline.globo.com/noticias.asp?n=455225&p=2&Tipo=

Inep divulga questões-modelo do novo Enem para que inscritos possam se ambientar com a prova






Foram disponibilizadas à meia-noite de ontem (29.07), pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), um compilado de 40 questões-modelo do novo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). As questões estão divididas entre as quatro áreas de avaliação: ciências da natureza e suas tecnologias; ciências humanas e suas tecnologias; linguagens, códigos e suas tecnologias e matemática e suas tecnologias.
As questões foram disponibilizadas em quatro arquivos PDF.


ARQUIVOS:QUESTÕES-modelo do novo ENEM
Baixe os arquivos dos exemplos de questões do Enem 2009.






A mudança do Enem o aproxima das diretrizes curriculares nacionais e dos currículos praticados nas escolas, mas sem abandonar o modelo de avaliação centrado nas competências e habilidades. Os exemplos de questões foram elaborados a partir de critérios técnicos e pedagógicos, com itens contextualizados e voltados para a realidade do cidadão.
A divulgação dos itens-modelo visa aproximar os futuros participantes da nova estrutura de prova do Enem, reformulado neste ano. O gabarito vai permitir a checagem das alternativas corretas e a melhor compreensão das habilidades abordadas, mas não será possível simular uma nota dentro da nova escala proposta para o Enem 2009, em Teoria de Resposta ao Item (TRI).
É importante lembrar que cada um dos quatro testes do Enem 2009 será composto por 45 itens de múltipla escolha, totalizando 180 questões. No dia 3 de outubro (sábado) serão aplicados 45 itens de ciências da natureza e suas tecnologias e 45 itens de ciências humanas e suas tecnologias. No dia 4 de outubro (domingo), serão 45 itens de linguagens, códigos e suas tecnologias e 45 itens de matemática e suas tecnologias, além de uma proposta de redação. Essa configuração permitirá ao Enem 2009 a aferição mais exata das proficiências de todos os participantes do exame.
Assessoria de Imprensa Inep/MEC

12/07/2009

ESTRUTURA DA NARRATIVA - o percurso gerativo do sentido

LÍNGUA PORTUGUESA / VIDA
Estrutura da narrativa
O percurso gerativo do sentido
Jorge Viana de Moraes*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Além dos já conhecidos elementos estruturais da narrativa, tais como o narrador, as personagens (principal, auxiliar, antagonista), o espaço, o tempo, o enredo, etc., os textos narrativos também se estruturam em quatro fases distintas ao longo de seu desenvolvimento, isto é, do seu percurso: a manipulação, a competência, a performance e a sanção.

Para entender cada uma dessas fases, tomemos como exemplo a famosa fábula "O lobo e cordeiro", de La Fontaine:

O LOBO E O CORDEIRO

Na água limpa de um regato,
matava a sede um cordeiro,
quando, saindo do mato,
veio um lobo carniceiro.

Tinha a barriga vazia,
não comera o dia inteiro.
- Como tu ousas sujar
a água que estou bebendo?
- rosnou o Lobo a antegozar
o almoço. - Fica sabendo
que caro vais me pagar!

- Senhor - falou o Cordeiro -
encareço à Vossa Alteza
que me desculpeis mas acho
que vos enganais: bebendo,
quase dez braças abaixo
de vós, nesta correnteza,
não posso sujar-vos a água.

- Não importa. Guardo mágoa
de ti, que ano passado,
me destrataste, fingido!
- Mas eu nem tinha nascido.
- Pois então foi teu irmão.

- Não tenho irmão, Excelência.
- Chega de argumentação.
Estou perdendo a paciência!
- Não vos zangueis, desculpai!
- Não foi teu irmão? Foi o teu pai
ou senão foi teu avô.
Disse o Lobo carniceiro.
E ao Cordeiro devorou.

Onde a lei não existe, ao que parece,
a razão do mais forte prevalece.


La Fontaine. "O lobo e o cordeiro".
In: Fábulas. Trad. Ferreira Gullar. Rio de Janeiro, Revan, 1997, p. 12.


Existem vários elementos concretos que compõem esta narrativa (cordeiro, lobo, regato, água, etc). No entanto, por baixo desses elementos poderíamos imaginar uma representação de nível mais abstrato: o texto relata uma transformação, ou seja, a passagem de um estado inicial para um estado final. Vejamos como isso ocorre.


Manipulação
Nas duas primeiras linhas do texto está explícito que o que levou a personagem cordeiro a beber água no regato foi a sede: esta é a manipulação. A manipulação consiste em uma personagem induzir outra a fazer alguma coisa. O manipulador pode usar de vários expedientes para induzir uma personagem a agir: um pedido, uma ordem, uma provocação, uma sedução, um tentação, uma intimidação, etc.

Mas pode-se dizer, numa instância mais abstrata, que a manipulação nessa fábula é a manutenção, por parte do cordeiro, de sua própria vida. Como se vê, o manipulador não precisa necessariamente ser uma personagem isolada (o príncipe, por exemplo), ou uma personagem coletiva (o povo, a pátria, um grupo de pessoas, etc), ou um ser animado (o cachorro fez o gato correr); inanimado (a ponte caiu, o que nos levou a procurar outro caminho) ou uma personagem que imponha a si mesma uma obrigação.

Todavia, para que a manipulação seja eficiente, é necessário que a personagem manipulada queira ou deva fazer (podendo querer e fazer ao mesmo tempo). No caso do cordeiro, ele queria matar a sede e manter-se vivo.


Competência
A próxima fase seria a competência. Para agir, não basta que a personagem queira ou deva, mas também que saiba e possa. Ilustrando com o exemplo da fábula, podemos dizer que o cordeiro, naturalmente, é presa do lobo na cadeia alimentar. Sendo assim, para desempenhar a função de saciar a própria sede (e de manter-se vivo), o cordeiro deveria livrar-se do lobo, quando este surgiu do mato. Como vimos, o cordeiro tenta argumentar contra o lobo na tentativa de escapar com vida. Esta parte da fábula pode ser considerada como a competência.


Performance
No entanto, a performance, isto é, o fazer persuasivo do cordeiro para com o lobo, não surte efeito, pois o lobo queria mesmo era devorá-lo, não importando o argumento que o cordeiro usasse. Tendo em vista que, nessa fase do percurso narrativo, geralmente, há sempre uma relação de perda e ganho, o lobo ganhou, o cordeiro perdeu.


Sanção
Na última linha da fábula narra-se que o cordeiro é devorado pelo lobo. Há aqui a sanção negativa do cordeiro, que se dá com a sua morte.

Em resumo, a personagem cordeiro é manipulada pela vontade de beber água. Esse sujeito (cordeiro) do fazer (beber água/ manter-se vivo) ao se deparar com o lobo (personagem antagonista), precisa adquirir uma competência (tentar persuadir o lobo a não matá-lo). O cordeiro, então, tenta desempenhar essa competência apelando para o bom senso (personagem auxiliar). Cria-se um conflito (o instinto predador do lobo), que não importando qual fosse o argumento usado pelo cordeiro (performance), devora-o.

Chega-se, assim, a uma sanção que é negativa para o cordeiro: sua morte; e positiva para o lobo: sua refeição.

Esquematicamente, teríamos:
*Jorge Viana de Moraes é mestre em Letras pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. É professor universitário em cursos de graduação e pós-graduação.
capa do livro "Laços de Família"
Conto
Características do gênero literário
Heidi Strecker*

O conto é uma obra de ficção, um texto ficcional. Cria um universo de seres e acontecimentos de ficção, de fantasia ou imaginação. Como todos os textos de ficção, o conto apresenta um narrador, personagens, ponto de vista e enredo.

Classicamente, diz-se que o conto se define pela sua pequena extensão. Mais curto que a novela ou o romance, o conto tem uma estrutura fechada, desenvolve uma história e tem apenas um clímax. Num romance, a trama desdobra-se em conflitos secundários, o que não acontece com o conto. O conto é conciso.

Grande flexibilidade
Por outro lado, o conto é um gênero literário que apresenta uma grande flexibilidade, podendo se aproximar da poesia e da crônica. Os historiadores afirmam que os ancestrais do conto são o mito, a lenda, a parábola, o conto de fadas e mesmo a anedota.

O primeiro passo para a compreensão de um conto é fazer uma leitura corrida do texto, do começo ao fim. Através dela verificamos a extensão do conto, a quantidade de parágrafos, as linhas gerais da história, a linguagem empregada pelo autor. Enfim, pegamos o "tom" do texto.


Primeiros passos
Podemos perguntar também: Quem é o autor do texto? Seja na internet, numa enciclopédia ou mesmo nos livros didáticos, é bom fazer uma pesquisa sobre o autor do conto, conhecer um pouco sua biografia. É um autor contemporâneo ou mais antigo? É um autor brasileiro ou estrangeiro?

O conto quase nunca é publicado isoladamente. Geralmente ele faz parte de uma obra maior. Por exemplo, o conto "Uma Galinha", de Clarice Lispector, faz parte do livro "Laços de Família".


Seguindo adiante
Depois dessas primeiras informações, podemos fazer uma leitura mais atenta do conto: elucidar vocábulos e expressões desconhecidas, esclarecer alusões e referências contidas no texto. Também podemos pensar no título do conto. Porque o autor escolheu este título? Este esforço de compreensão qualifica - e muito - a leitura. Torna o leitor mais sensível, mais esperto.

O passo seguinte é fazer a análise do texto.
No momento da análise o leitor tem contato com as estruturas da obra, com a sua composição, com a sua organização interna. Para analisar o texto, é bom observar alguns aspectos da sua composição. Algumas perguntas são muito importantes: Quem? O que? Quando? Onde? Como?

Formular as perguntas e obter as respostas ajuda a conhecer o conto por dentro:

•Quais são os personagens principais?

•O que acontece na história?

•Em que tempo e em que lugar se passa a história narrada?

•E algo bem importante: Quem narra? De que jeito? O narrador conta de fora ou ele também é um dos personagens?

Depois dessa análise, fica mais fácil interpretar a obra. Já temos uma base para comentar, comparar, atribuir valor, julgar. Nossa leitura está mais fundamentada. Fica mais fácil responder à pergunta: O que você achou do conto?

FONTE:
http://educacao.uol.com.br/portugues/ult1706u25.jhtm

Dicas de Português

Redundâncias devem ser evitadas
Por Thaís Nicoleti
"Ele foi socorrido e levado à Santa Casa de Franca, mas não resistiu aos ferimentos e morreu em seguida."

À primeira vista, a frase acima pode não apresentar problema algum. Nenhuma regência incorreta, nenhuma vírgula fora de lugar ou acento indevido de crase.

O que chama a atenção, no entanto, é a redundância, ou seja, a repetição com palavras diferentes de algo que já estava dito. Se uma pessoa é levada ao hospital, mas não resiste aos ferimentos, deduzimos que ela morreu. Não resistir e morrer querem dizer exatamente a mesma coisa. Além disso, a expressão "em seguida" acrescenta à situação um curioso intervalo entre não resistir e morrer.

Como se vê, bastaria dizer que a pessoa não resistiu aos ferimentos. Veja, abaixo, a sugestão:

Ele foi socorrido e levado à Santa Casa de Franca, mas não resistiu aos ferimentos.

Concordância verbal merece atenção

Por Thaís Nicoleti
"O exagero e a falta de compromisso com a realidade é o que fazem a Aline engraçada."

Na frase acima, declaração dada a um jornalista, há um defeito de concordância, talvez explicável pela complexidade da estrutura escolhida. Caso a pessoa dissesse simplesmente "O exagero e a falta de compromisso com a realidade fazem a Aline engraçada", não haveria dúvida quanto à flexão do verbo "fazer", em concordância com o sujeito composto.

Ocorre que a estrutura enfática escolhida pela pessoa requer mais atenção. Em primeiro lugar, observe-se que a expressão "o exagero e a falta de compromisso com a realidade" é sujeito do verbo "ser", que, por esse motivo, deve ser flexionado ("são").

O predicativo desse sujeito é representado pelo pronome demonstrativo "o" (sinônimo de "aquilo"), que, retomado pelo pronome relativo "que", dita a concordância do verbo "fazer". Assim: são o que faz Aline engraçada/ são aquilo que faz Aline engraçada.

Vê-se, portanto, que o verbo que está no singular deveria estar no plural e vice-versa. Abaixo, a reestruturação da frase:

O exagero e a falta de compromisso com a realidade são o que faz a Aline engraçada.

Dicas de Português

Fluência resulta do uso de somatório de recursos linguísticos
Por Thaís Nicoleti
"Uma das hipóteses ventiladas que teriam causado a morte do cantor é a de que ele ingeriu uma grande quantidade de medicamentos ,entre eles, o narcótico Demerol, que possui efeitos semelhantes à morfina."

O fragmento acima, sem dúvida, é inteligível, mas ganharia em fluência se observadas algumas sutilezas da nossa língua. A oração "que teriam causado a morte do cantor" articula-se sintaticamente com o substantivo "hipóteses", como se fosse possível dizer que "hipóteses teriam causado a morte do cantor". Temos aqui um caso de regência que interfere na precisão do que se pretende dizer. Existem hipóteses sobre alguma coisa - no caso hipóteses sobre a causa da morte do cantor (não "hipóteses que teriam causado a morte do cantor").

Tratando-se de hipóteses, não de afirmações seguras, temos de usar o modo subjuntivo na oração que explicita a hipótese em questão: uma das hipóteses é a de que ele tenha ingerido uma grande quantidade de medicamentos. O resultado da necropsia, por sua vez, poderá informar se, de fato, Jackson ingeriu esses medicamentos.

O cantor fazia uso de diversos medicamentos - e o redator quer explicar que o Demerol estava entre eles. A construção ideal se faz com o pronome relativo, elemento de coesão por meio do qual se retoma algo mencionado antes. O redator emprega o pronome pessoal ("eles"), que não é o adequado nesse caso e, por isso mesmo, provoca uso hesitante da pontuação. No lugar de "entre eles", o ideal seria usar "entre os quais". Assim: ingeriu grande quantidade de medicamentos, entre os quais o narcótico Demerol. Note que "os quais" retoma "medicamentos" e a preposição "entre" indica que o Demerol está entre eles. Essa é a construção correta, que não requer a segunda vírgula.

Agora, uma questão de uso do vocabulário: o verbo "possuir" não tem espectro semântico tão amplo quanto os redatores em geral gostariam que tivesse. "Possuir", do mesmo radical de "posse", é ainda mais específico que "ter". De qualquer maneira, nem um nem outro seria bem empregado no caso em questão, pois um remédio não possui (ou tem) efeitos - o medicamento pode provocá-los. Esse é o termo exato.

Finalmente, o paralelismo sintático-semântico: os efeitos do Demerol são semelhantes à morfina ou são semelhantes aos efeitos provocados por ela? Bastaria, nesse caso, usar o pronome demonstrativo referente a efeitos, ou seja, "os". Assim: efeitos semelhantes aos da morfina.

Abaixo, você lê uma nova versão do trecho selecionado. Compare os dois fragmentos e perceba que a fluência é o resultado do uso do somatório de recursos de que a língua dispõe.

Uma das hipóteses ventiladas sobre a causa da morte do cantor é a de que ele tenha ingerido uma grande quantidade de medicamentos, entre os quais o narcótico Demerol, que provoca efeitos semelhantes aos da morfina.