18/07/2008

ORIGEM DAS PALAVRAS

Tudo tem a sua história. A língua portuguesa não é diferente. Toda língua tem uma história que se confunde com a de seus falantes, ou seja, o seu povo. O português também é assim. Nossas palavras vêm de várias fontes. Vejamos:
1ª) Fonte primária e básica é o latim falado, que os filólogos denominam de latim vulgar. Este latim era levado pelos soldados romanos a cada região conquistada pelo império. Em cada terra, os soldados romanos se misturavam na convivência, que também gerou uma mistura lingüística do latim vulgar com a língua nativa, dando origem a vários idiomas, como: português, castelhano, catalão, provençal, francês, rético, italiano, sardo, dalmático (morto) e romeno. A Península Ibérica foi conquistada no século III A.C.. Nela habitavam celtas, iberos, fenícios, gregos e outros grupos. Celso Cunha diz que poucas palavras destes povos permaneceram no português, como: balsa, barro, carrasco, louça, manteiga e alguns sufixos.
2ª) Latim escrito usado pela Igreja Católica e pelos intelectuais, de onde nasceram as palavras eruditas no português, como: celeste, fascículo, homúnculo, lácteo, miraculoso (de milagre).
3ª) Outras línguas, quase sempre neolatinas, das quais recebemos palavras que tiveram origem também no latim, como amistoso, ligado à palavra castelhana amistad (no português amizade), do latim amicitate.
4ª) Invasões estrangeiras. Os visigodos, no século V, como os árabes, do século VII ao XV, estiveram na Península Ibérica, por isso há no português várias palavras de origem gótica, como: albergue, bando, guerra, trégua; de origem árabe, como: alface, álcool, cifra, faquir, tripa, xadrez. De 1580 a 1640 Portugal permaneceu sob o domínio espanhol, são desta época o espanholismo, como: alambrado, granizo, hombridade, neblina redondilha, tablado, vislumbrar.
5ª) Imigrações. Já no Brasil, o português sofreu influência dos negros, que foram trazidos como escravos, como acarajé, candomblé, dengue, vatapá. Recebemos palavras também do povo nativo, os índios, principalmente nos nomes dos acidentes geográficos e das cidades. Depois dos europeus e asiáticos vindos ao Brasil no final do século XIX e início do século XX, como: italianos, espanhóis, japoneses. Por isso, o português do Brasil foi se distanciando do português de Portugal.
6ª) Influência cultural. A intelectualidade brasileira já sofreu forte influência cultural da França, por isso temos palavras importadas do francês, como: chique, croqui, tricô, menu, omelete, purê, sutiã. Atualmente sofremos uma influência forte do inglês norte-americano, como: basquete, vôlei, boxe, ringue, uísque, nocaute, cartum, filme. Havendo muitas palavras que conservam a ortografia inglesa, como: marketing, software, overnight, holding, lobby.
E o português continua aberto à importação de termos estrangeiros, principalmente em tempos de globalização.
Origem da palavra cretino Cretino é palavra que várias línguas românicas tomaram emprestada de um dialeto franco-provençal dos Alpes Suícos, "cretin" (do latim "christianu", que significa cristão). Nessa região muitos dos habitantes eram acometidos de cretinismo ou bócio (doença caracterizada pelo crescimento da tireóide, vulgarmente conhecida por papo), e assim denominados por pena, "pobre cristão", "pobrezinho". Como o bócio provoca a parada do desenvolvimento físico e mental, o termo passou a usar-se pejorativamente com o significado de imbecil, idiota. (Adriano da Gama Kury)
Cunhado Cunhado resulta do latim "cognatu". E "cognatu" (nascido do mesmo sangue) ao contrário de cunhado, é parente pelo sangue, e não por afinidade. "Cognato" é forma erudita, e além do sentido jurídico de parente consangüíneo, usa-se em Gramática para designar a palavra que tem raiz comum com outras, como: claro, clareza, claridade, esclarecer. Poranto, o sentido atual de cunhado (parente por afinidade) nada tem a ver com o seu primeiro sentido, lá no latim (parente pelo sangue). (Adriano da Gama Kury)
Fogo Fogo (que em latim se dizia "ignis" = ignição do carro) tem origem noutra palavra latina, "focu", cujo primeiro sentido é lar doméstico, lareira, e só posteriormente passou a significar fogo. Por via culta, "focu" nos deu foco, já com sentidos novos.
Lápis e lápide A palavra lápis, em latim, possuía várias formas, de acordo com sua função na frase: lapidis, lapidem. Ela significa pedra: pedra tumular, marco miliário, pedra preciosa. O portuguê, no século XVI, tomou provavelmente do italiano a palavra lápis, já com sentido especial de grafite, ou seja, variedade de carbono cristalizado para escrever. E hoje designa qualquer bastãozinho, geralmente de madeira e cilíndrico, que envolve a grafite. Da forma lapidem provém, por via erudita, a nossa lápide, que se usa apenas nos sentidos de laje com inscrição comemorativa e laje tumular. (Gama Kury)
Libertino, a princípio filho de escravo liberto, tomou o sentido de libertados dos preceitos da moral e da religião, e daí devasso, imoral, despudorado, dissoluto.(Gama Kury)
Lindo e legítimo À primeira vista, ninguém associará "lindo" e "legítimo". Mas é preciso saber que o latim "legitimu", a princípio termo jurídico (legal, conforme às leis), também passou a significar perfeito, excelente, e nos deu, além da forma erudita "legítimo", a evolutiva "lídimo", a qual, por uma permuta de sons usual, deve ter tido a forma "límido", que, com a queda, bastante comum, do /i/ seguinte à sílaba tônica, transformou-se em "lim'do", e finalmente "lindo". A evolução de sentido t erá sido a seguinte: legítimo=puro= nobre de estipre=perfeito=formoso. (Gama Kury)
Lucro O latim "lucru", por via culta, nos deu lucro, de sentido semelhante. Mas, por via popular, a forma resultante é "logro": engano, trapaça, fraude. Há certa tendência a dar sentido pejorativo aos termos comerciais: na verdade, para aumentar seu lucro, o comerciante muitas vezes logra o freguês. Observe que o cognato lograr, ao lado do sentido depreciativo, conserva o de obter, desfrutar, conseguir. ( Adriano da Gama Kury.)
Mágoa, mácula, mancha, malha, imaculado A família portuguesa derivada do Latim "macula" (mancha, malha, marca natural, nódoa, defeito, malha dum tecido) tem vários representantes. Mancha - por via popular, é o termo de sentido mais geral; Malha - pode ser trança de qualquer fibra têxtil, a abertura no entrançado de um tecido, o entrançado de um fio de metal com que se fabricavam as armaduras, o tecido que se desfia facilmente, a roupa feita com tecido entrançado, como mancha natural de coloração diferente na pele dos animais (vaca malhada); Mágoa - já significou mancha proveniente de uma contusão, hoje só se emprega no sentido de desgosto, amargura, pesar, tristeza causados por uma ofensa ou desconsideração; Mácula - por via culta, termo empregado quase sempre no sentido figurado de mancha ou nódoa (virgem sem mácula, Imaculado Coração de Maria).
Minuto/ miúdo Minuto e miúdo provêm, por vias diferentes, do mesmo termo latino, "minutu", que quer dizer diminuído, miúdo. O sentido da forma culta, "minuto", resulta de ser parte diminuta em que se divide a hora. O feminino laltino "minuta", diminuída, passou a aplicar-se aos rascunhos, que eram escritos com letras muito miúdas. ( Adriano da Gama Kury)
Orar, recitar e rezar O latim "orare" tinha o sentido de pronunciar uma fórmula ritual, uma súplica, um discurso, pedir, rogar, pleitear, advogar. Estas duas últimas acepções estão presentes nos cognatos "oração" (lat. "oratione") e orador, da linguagem jurídica. Mas o verbo, por influência do latim da Igreja, especializou-se no sentido de suplicar a Deus, rezar. "Recitare", ler em vez alta, recitar, ler, além da forma erudita "recitar",com o mesmo sentido, deu-nos a forma popular "rezar", cujo sentido se especializou como recitar ou ler orações. (Adriano da Gama Kury)
Pensar O primeiro sentido do verbo latino "pensare" é suspender, pendurar (das conchas da balança), pesar, e nos deu, por via popular, "pesar". Do sentido concreto de "pesar" deriva o figurado de "pesar os prós e os contras", ponderar, examinar, que nos leva ao de meditar, refletir, próprio da forma culta "pensar". (Adriano da Gama Kury)
Trabalho A palavra "trabalho" tem sua origem no vocábulo latino "TRIPALIU" - denominação de um instrumento de tortura formado por três (tri) paus (paliu). Desse modo, originalmente, "trabalhar" significa ser torturado no tripaliu. Quem eram os torturados? Os escravos e os pobres que não podiam pagar os impostos. Assim, quem "trabalhava", naquele tempo, eram as pessoas destituídas de posses. A partir daí, essa idéia de trabalhar como ser torturado passou a dar entendimento não só ao fato de tortura em si, mas também, por extensão, às atividades físicas produtivas realizadas pelos trabalhadores em geral: camponeses, artesãos, agricultores, pedreiros etc. Tal sentido foi de uso comum na Antigüidade e, com esse significado, atravessou quase toda a Idade Média. Só no século XIV começou a ter o sentido genérico que hoje lhe atribuímos, qual seja, o de "aplicação das forças e faculdades (talentos, habilidades) humanas para alcançar um determinado fim". Com a especialização das atividades humanas, imposta pela evolução cultural (especialmente a Revolução Industrial) da humanidade, a palavra trabalho tem hoje uma série de diferentes significados, de tal modo que o verbete, no Dicionário do "Aurélio", lhe dedica vinte acepções básicas e diversas expressões idiomáticas. (Pesquisa de Augusto Nivaldo Trinos.In Revista "Educação e Realidade".)
Tratante Tratante, no português antigo, era apenas o que trata (de negócios, de papéis); mas a falta de honestidade de certos tratadores e negociantes foi responsável pela deterioração do sentido para canalha, patife, velhaco. (Gama Kury)
Vilão "Vilão" era apenas o aldeão, o habitante da vila, veio a significar homem grosseiro, perverso, infame. Certamente há de ter influído a associação (indevida) com vil. E, na maneira de ver dos aristocratas, dos nobres, dos homens da cidade, só os da aldeia, da vila, do campo são grosseiros, capazes de praticar ações vis... (Adriano da Gama Kury)
FONTE:http://www.portrasdasletras.com.br/pdtl2/sub.php?op=curiosidades/docs/origemdaspalavras

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